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Você já precisou ter uma conversa difícil e no fim percebeu que a situação ficou pior do que já estava? Você consegue falar sobre o que sente com tranquilidade e clareza? A boa comunicação é o oxigênio dos relacionamentos.

Mas nem sempre é fácil falar e ouvir, principalmente em momentos de tensão. A comunicação não violenta vem transformando relações pessoais e profissionais, com uma proposta prática para resolver conflitos.

Se você procura ferramentas para resolver desafios que aparecem nas suas relações por causa da forma como você se comunica, ou deixa de comunicar, esse artigo é para você.

O que este artigo aborda:

Comunicação não violenta
Comunicação não violenta
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O que é comunicação não violenta? 

A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma prática que desenvolve habilidades de comunicação para fortalecer a conexão nas relações.

Ela não é um tipo de técnica que sempre que for reproduzida vai trazer os mesmos resultados. Mas um conhecimento que te ajuda a promover empatia e compreensão

Talvez ao ouvir o termo, Comunicação não violenta você pense: “Mas não sou uma pessoa violenta. Sempre falo com educação e nunca agredi ninguém.”

Normalmente associamos a violência a formas claras de ofensa, agressão física ou gritos.

Mas você sabia que existe um tipo de violência que é tão sutil, que muitas não conseguimos enxergar?

Marshall Rosenberg, psicólogo que sistematizou o conceito de Comunicação não Violenta, diz:

“Embora possamos não considerar violenta a maneira que falamos, nossas palavras, não raro induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos.”

Nós estamos imersos em uma cultura que funciona pelo paradigma da dominação. Quando estamos em uma situação de conflito, usamos a dicotomia do “certo x errado”. Se eu estou certo, o outro está completamente errado. Se eu sou bom, quem se opõe a mim é mal, e por isso deve ser punido. Agora imagine levar isso para uma conversa, onde você precisa falar e ouvir uma pessoa que te magoou.

Você pode controlar sua fala, não alterar seu tom de voz, não usar palavras ofensivas, e até usar o humor, e mesmo assim reproduzir uma comunicação violenta.

Um exemplo: Um amigo sofreu um acidente por irresponsabilidade da empresa em não cumprir algumas normas de segurança do trabalho. Ao te contar a notícia ele expressa tristeza e até chora. Com a intenção de consolar, você responde “Uma pena. Mas pelo menos você tem um trabalho. “

Aparentemente é uma fala inofensiva. Mas não expressa um sentimento de empatia. Ao invés de comunicar compreensão você tentou consertar uma situação que exige apoio emocional com justificativas intelectuais. Com certeza essa fala não vai gerar conexão.

Como reconhecer uma comunicação violenta?

Se existe um tipo de violência sutil e invisível, como identificar ela em nossa comunicação? Basicamente, uma comunicação violenta não reconhece a necessidade do outro, não age com empatia e tem a intenção de minar a liberdade do outro.

Palavras podem ser usadas para punir, manipular, julgar, culpar e oprimir e coagir. Mas muitas vezes elas vem junto de atitudes que não são consideradas violentas, e por isso não percebemos.

Isso acontece porque nós não somos estimulados ao autoconhecimento. Não sabemos identificar o que sentimos, e quando identificados não temos ferramentas para administrar sentimentos conflituosos.

Alguns formatos de comunicação violenta:

1. Fazer julgamentos morais e comparações exageradas

“Você é egoísta demais”

“Queria que você fosse menos preguiçoso. O seu primo é tão trabalhador, queria que fosse como ele.”

2. Negar sua responsabilidade

“Eu não gosto de ficar bravo e te tratar assim. Mas você me provoca e isso acaba acontecendo.”

3. Ameaças e punições

“Se você não vir agora, nossa relação acabou”

4. Falta de empatia

“Você está doente mesmo? Quando pode voltar a trabalhar? Talvez você possa encontrar um tempo no final de semana para algumas tarefas.”

História da comunicação não violenta

A Comunicação não violenta foi citada pela primeira vez pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg.

Ele trabalhou ativamente como orientador educacional em escolas e universidades nos EUA que estava deixando a segregação racial. Esse processo exigia uma transição pacífica e uma nova abordagem comunicativa.

Marshall começou a observar dois tipos de comportamentos:

  • Violência e preconceito racial e cultura
  • Ações compassivas, mesmo circunstâncias difíceis

Marshall percebeu que a maneira como usamos as palavras tem uma função importante na capacidade humana de ser compassivo, ou violento. Ele se aprofundou no papel da linguagem dentro das relações e identificou alguns padrões que geram conexão ou ruptura.

Ele nomeou os padrões de ruptura como “linguagem alienante”. Que são hábitos como: julgar, criticar, diagnosticar e rotular. Ele também identificou 5 componentes que nos conecta a capacidade compassiva.

4 componentes da comunicação não violenta

Antes de tudo, a Comunicação Não Violenta é a proposta de um novo olhar sobre nossos relacionamentos, com o mundo, e principalmente com nós mesmos. Ela também oferece uma forma prática para entrar em contato com nossa capacidade compassiva.

Observação

O que de fato aconteceu na situação? O exercício de observação separa o que de fato aconteceu, das avaliações e julgamentos que fazemos das situações. É como se uma terceira pessoa estivesse de fora, como testemunha, observando e descrevendo.

Imagine só: você chega do trabalho e encontra a casa bagunçada. Você pode descrever a mesma situação de duas formas:

  1. “Quando eu cheguei em casa, a louça estava na pia, a cama desarrumada, e tinha roupas no banheiro”;
  2. “Você nunca arruma casa. Sempre promete e não cumpre. Isso é egoísmo”.

Em qual dessas situações você acha que a outra pessoa vai ter abertura para continuar no diálogo?

Quando a gente observa a situação e comunica a partir do que observamos, compartilhamos de uma mesma realidade. As pessoas envolvidas na conversa podem testemunhar e concordar que aquilo realmente aconteceu. Além disso, tiramos do foco julgamentos e críticas desmedidas.

Julgamentos e avaliações fazem parte da nossa humanidade. São como mecanismos de defesa que o cérebro usa para se proteger. A ideia não é parar de julgar e avaliar as situações. Mas perceber que, quando falamos de forma crítica e julgadora, as chances de sermos compreendidos são poucas.

Pense só. Como você reage a uma abordagem de julgamento? Você se fecha e se defende. É normal. Se nós queremos criar conexões em nossas conversas, precisamos falar sobre o que aconteceu e evitar julgamentos.

Sentimentos

Comunicar nossos sentimentos e mostrar nossa vulnerabilidade é a chave para nos conectarmos uns com os outros.

Mas precisamos reconhecer que a maior parte de nós não teve acesso a uma alfabetização emocional. Não aprendemos a identificar os nossos sentimentos, e muito menos comunicá-los de forma clara e não violenta.

Tente responder à pergunta: “O que você está sentindo agora?”

É comum responder com um: “Eu sinto que estou sendo desrespeitada” ou “Sinto que algo vai dar errado.” Você consegue perceber que essas respostas não falam sobre sentimentos, mas sobre pensamentos sobre uma situação?

Existem algumas expressões que parecem descrever sentimentos. Mas na verdade são julgamentos sobre ações dos outros. Por exemplo: “Eu sinto que fui injustiçada” “Sinto que fui desrespeitado”.

Sentimentos são expressões que descrevem nossa experiência.

“Estou insegura.”

“Estou chateado.”

Sentimentos tem um papel importante na CNV. Comunicá-los é mostrar o que é importante para nós naquele momento. Eles mostram necessidades que foram atendidas ou não.

Por exemplo, se um amigo atrasa em um compromisso, você pode se sentir chateado (a), porque pontualidade é importante para você. Ou se um colega de trabalho te ajudar em uma tarefa complicada, você pode se sentir aliviado (a), porque colaboração e produtividade no trabalho são importantes para você.

Por isso, precisamos ampliar nosso vocabulário de sentimentos. Além de facilitar nossa conexão com as pessoas no momento em que compartilhamos nossa experiência, os sentimentos ainda nos ajudam a ficar atento à mensagem que eles transmitem.

É comum classificarmos os sentimentos como bons e ruins. Mas eles são apenas mensageiros das nossas necessidades básicas. Precisamos compreender e naturalizar a presença dos sentimentos em nossa vida.

Necessidades

Segundo Marshall Rosenberg:

“Por trás de toda ação, existe uma necessidade humana universal”.

Isso quer dizer que, independente de gênero, classe social, idade ou espaço geográfico, as necessidades são humanas e universais.

Em uma conversa difícil, por exemplo, fica mais fácil chegar a um ponto em comum quando você compreende que nossa humanidade é compartilhada.

 Por trás de cada ação do outro existe uma motivação. Mesmo que eu não concorde com ela, fica mais fácil criar uma conexão quando eu sei que, como seres humanos, temos as mesmas necessidades. Quando essa necessidade é compartilhada, as chances de encontrar um caminho que atenda às nossas necessidades diante daquela situação é maior.

Nossos sentimentos nos alertam sobre nossas necessidades. A ação do outro nunca é a causa do que sentimos. Pode ser um estímulo, mas a causa dos que sentimos está sempre em nossas necessidades.

Quando você é interrompido no meio de uma conversa e sente raiva, a causa desse sentimento é sua necessidade de consideração e espaço. Quando você fica triste por estar sozinha, é sinal que você tem necessidade de conexão e afeto.

O problema é que, a maior parte de nós, também não tem um vocabulário de necessidades. Elas ajudam muito a investigar o porque sentimos o que sentimos.

Pedidos

Você já fez algum pedido, expressando como você gostaria que suas necessidades fossem atendidas?

Muitas pessoas acreditam que pedir é sinônimo de carência ou fraqueza. Ou então pensam que ao pedir estão incomodando as pessoas. Mas as nossas necessidades não são tão óbvias para o outro. Você já pensou assim: “Não preciso pedir. Está claro o que eu preciso, o outro que não quer ver”

Mas ao fazer um pedido claro e objetivo você dá oportunidade do outro conhecer sua necessidade e entender o que é importante para você. Muitos conflitos começam justamente porque muitos de nós não pedimos com clareza o que queremos. Não falamos, criamos expectativas que não podem ser cumpridas, e isso acaba virando um peso na relação.

Você precisa se responsabilizar por suas necessidades e comunicá-las de forma clara e específica para que o outro compreenda o que é importante para você. Somos criados de formas diferentes, culturas diferentes, e nutrimos crenças diferentes sobre o mundo. O que é importante para você, pode não ser tão importante para o outro. Por isso, é importante ser claro quando queremos algo do outro.

É importante lembrar também que o outro tem a liberdade de dizer sim ou não para os nossos pedidos. Se ao expressar seu pedido você se ressente por ouvir o não, você está fazendo uma exigência e não um pedido.

Quando você faz uma exigência a chances do outro responder com culpa, medo ou vergonha é alta. Ao longo do tempo, isso pode custar caro para a relação.

O primeiro passo é entender a sua necessidade e buscar estratégias para comunicá-las. Se você precisa de uma companhia, por exemplo, você pode pedir a um amigo próximo. Se ele não tem disponibilidade de atender seu pedido naquele momento, você pode procurar um familiar, ou até um colega que não seja tão próximo.

Entendendo melhor os 4 componentes

Você percebeu que os componentes da Conversa Não Violenta transformam, principalmente, a relação que temos conosco mesmo? Toda ação começa a partir de se conectar verdadeiramente com suas necessidades e sentimentos. Por isso, os 4 componentes não são 4 passos que precisam seguir uma ordem rígida. Há momentos em que não será necessário usar todos os componentes.

O principal objetivo é nos tirar do modo automático e nos levar a uma atenção maior ao que realmente está acontecendo enquanto nos expressamos em determinada situação.

Os 4 componentes estão presentes tanto na fala como na escuta. A proposta é escutar além do que as palavras e as reações parecem dizer. Existem observações, sentimentos, necessidades e pedidos ali sendo comunicados.

Exercícios e perguntas para praticar a comunicação não violenta

Você deve estar se perguntando como é possível colocar tudo isso em prática no meio de um conflito. Calma! Aprender um novo hábito, ou uma nova forma de olhar para as situações, é como andar de bicicleta. Exige tempo, esforço e paciência. Mas você já pode começar a praticar com exercícios simples.

Como você já percebeu, a Comunicação Não Violenta também é uma proposta de autoconexão. Antes de enfrentar uma situação desafiadora você pode fazer uma reflexão com essas perguntas:

  • O que realmente aconteceu? O que foi dito e quais ações de fato aconteceram ali?
  • O que eu estou sentindo?
  • O que eu preciso nesse momento? O que é importante para mim? Quais necessidade eu tenho para esse momento?
  • Eu expressei meu pedido de forma clara para outra pessoa? Consegui ouvir o pedido que o outro me fez?

Esse exercício de autoconexão pode mudar o resultado da sua conversa. Você já percebeu que antes de resolver um conflito nós nos armamos com justificativas?

Muitas vezes ficamos horas nutrindo pensamentos de ansiedade, culpa ou ressentimento. Como chegar em um lugar de empatia e compreensão com essa disposição?

Se quisermos de fato resolver conflitos e criar conexão em nossas relações precisamos encontrar um meio de desenvolver nossa capacidade compassiva.

Para Marshall Rosenberg, existem 3 fatores essenciais para integração da Comunicação Não Violenta:

  1. Compreensão do que acontece no nosso interior;
  2. Uma comunidade onde você possa praticar e encontrar apoio;
  3. Prática, prática e mais prática.

É como aprender uma nova língua. Praticá-la é o único caminho para conseguirmos fluência. Se você quer sair dessa dinâmica de queda de braço em suas relações sempre que um conflito aparece, praticar a comunicação não violenta é a saída.

O que fazer quando estou em uma conversa?

Se você já está no meio do furacão, existem 4 passos que podem te ajudar a reverter um comportamento violento.

  1. Se distancie por um minuto da situação e comece a observar com mais cautela. Tente olhar os fatos sem nenhum juízo de valor. Se necessário, peça uma pausa na conversa, respire profundamente, e retorne à conversa;
  2. Depois da observação é hora de reconhecer honestamente qual sentimento está aflorando em você naquele momento. Deixe de lado os sentimentos de culpa e vergonha. Normalize os sentimentos, sejam quais forem. Ignorar e fingir que eles não existem é um caminho para uma comunicação violenta;
  3. Depois de dar espaço e escuta aos seus sentimentos, você pode compreender suas necessidades. Pergunte-se: “ O que eu preciso para deixar de me sentir assim?”;
  4. Depois de entender sua necessidade, é hora de expressar honestamente seu pedido. Você deve fazer isso com a maior objetividade possível, e de forma empática. Comunique o que você está sentindo, o que é importante para você, e como ela pode te ajudar.

A empatia é um dos pilares da comunicação não violenta. Se queremos criar espaço para relacionamentos saudáveis, é preciso deixar de lado o modo defensivo e reativo que adotamos nos conflitos.

Se coloque no lugar da outra pessoa envolvida e tente entender sua perspectiva. O que você faria e sentiria no lugar dela? A empatia é o elemento chave para entender que o outro não é um inimigo. Ele é uma pessoa que, assim como você, tem necessidades, crenças e desejos. No fim, o outro é um espelho. Olhar para ele diz muito mais sobre nós mesmos do que imaginamos. A comunicação não violenta ganhou espaço por ser prática e relevante. Esses são os conceitos básicos, mas você pode se aprofundar à medida que for praticando.

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